Pesquisa divulgada com exclusividade para o Estado mostra evolução do comportamento digital no País, com 63% dos usuários acessando a rede para diferentes tipos de atividade; segmentos como educação e compras ainda registram baixa adesão
Qual é o grau de sofisticação do seu uso da internet? Você é daqueles que faz pouco mais do que acessar o Facebook e o WhatsApp? Ou é do tipo que ancora sua existência no mundo online, usando a rede para se informar, ver a previsão do tempo, pagar contas, procurar relacionamentos, ouvir música, assistir a seriados de TV, dentre muitas outras atividades?
Se você se encaixa na segunda opção, pode se considerar um “maduro digital”. De acordo com uma pesquisa do Ibope Media/Target Group Index sobre hábitos na internet, cedida com exclusividade para o Estado, a maturidade digital está relacionada ao número de atividades realizadas na rede. “Imaturos” realizam de 1 a 5 atividades. No meio-termo, estão os que fazem de 6 a 10 atividades. Já aqueles que atingiram a maturidade digital são pessoas que praticam de 11 usos distintos da rede para cima.
A boa notícia é que, com 63% de seus 84 milhões de usuários de internet (segundo a ComScore) na categoria dos 11 usos ou mais, o Brasil pode ser considerado um país digitalmente maduro. Por outro lado, quando se considera as atividades individualmente, se observa discrepâncias grandes entre os tipos de atividade. No topo do engajamento estão, como era de se esperar, as redes sociais. Na outra ponta, atividades como fazer cursos online, procurar emprego ou realizar compras pessoais têm adesão baixa no Brasil.
A pesquisa entrevistou cerca de 20 mil pessoas entre fevereiro de 2014 e março de 2015 e considerou o uso da internet via web e móvel. Quando comparados a dados de 2005 do próprio Ibope, fica clara a evolução. Há dez anos, apenas 44% das pessoas que utilizavam a internet realizavam uma diversidade maior de atividades.
“Atualmente, a variedade de atividades não tem sido apenas maior como cresce mais rapidamente”, observa Juliana Sawaia, diretora da área de “learning & insights” (aprendizado e visão) do Ibope Media, que diz que quase 40% das pessoas que usa a rede há menos de dois anos realiza 11 ou mais atividades.
De acordo com o levantamento, tudo aumenta conforme os anos de uso. Além da variedade de atividades, os “veteranos” da rede também passam mais tempo conectados e utilizam mais telas, que podem ser de um smartphone, um tablet ou um PC. O Ibope Media também mostra que a quase totalidade dos usuários brasileiros (94%) se vale de pelo menos duas telas.
Em tempos de Internet.org, o projeto do Facebook criticado por oferecer um acesso à rede restrito a poucos apps, é tentador comemorar a diversidade da experiência online dos brasileiros. O papel de atração que o Facebook exerce sobre quem aspira a se conectar ou acabou de adentrar o mundo online, porém, continua central. De acordo com o Ibope Media, mesmo entre usuários recentes, a adesão às redes sociais é de 81%, a porcentagem mais alta entre todas as atividades e muito próxima dos índices de quem esta conectado há mais tempo. “A rede social é uma porta de entrada muito importante, graças a sua mobilização de informação e seu papel na comunicação”, declara Sawaia.
A pesquisa divide as atividades em grupos: relacionamento (redes sociais, mensagens); informação (notícias, previsão do tempo, mapas); diversão (música, TV, humor) e transações (internet banking, compras, leilões). Todos têm altos números de utilização, exceto o último (veja abaixo).
Complexidade
Entre os que tem um uso limitado da internet, apenas 11 tipos de atividade tem adesão acima dos 10% de usuários, entre os quais uso de redes sociais, e-mail e pesquisas pessoais. Saindo destas, há uma longa lista com adesão baixíssima. Consultar mapas, ouvir música, ver fotos, conferir previsão do tempo e visitar sites de educação ou aprendizagem estão entre atividades que registram menos de 10% de adesão entre aqueles com uso restrito da rede. O potencial educativo e de serviço da rede é pouco aproveitado por este grupo.
Já entre os que contam com a rede para mais atividades, os números saltam.Ouvir música, por exemplo, vai de 7% de adesão entre os que têm uso limitado para 54% entre os maduros digitais. O tempo de uso incrementa as experiências. “A qualidade das atividades vai mudando, sai das mais simples e vai para as mais complexas”, explica a pesquisadora do Ibope Media.
A maturidade digital brasileira não surpreende Bruno Vieira, diretor-executivo da plataforma de streaming de música Rdio no Brasil. Segundo ele, os usuários do País tem alguns dos melhores indicadores em relação a outros mercados. De acordo comVieira, os brasileiros passam mais tempo dentro do serviço e criam mais playlists que a maior parte dos 85 países onde o Rdio atua. “O brasileiro é o top 2 do serviço no mundo em tempo de conexão, atividade e engajamento”, conta.
Segundo outro levantamento do Ibope Media, que compara o Brasil com países latinos, nossa maturidade está acima de Argentina e México, mas abaixo de Colômbia e Equador.
Fonte: Blog Estadão