Durante a conferência Wearable World, em San Francisco, uma discussão animada entre os executivos da Capital One, MasterCard e PayPal apontou para uma nova onda no caminho do crescente mercado de pagamentos móveis. Na conversa, um debate que foi parte da agenda do congresso, eles abordaram o futuro dos pagamentos feitos por dispositivos móveis e explicaram porque a tecnologia wearable (computação vestível) é parte importante das estratégias corporativas.
Os wearables aperfeiçoam e expandem a experiência de pagamento móvel. Na medida em que o número de dispositivos no mercado prolifera, a Capital One pretende usá-los, por exemplo, na atração e retenção de clientes. Segundo a vice-presidente de inovação e novos produtos da Capital One, Angie Moody, a empresa está convencida de ter encontrado nos wearables uma forma de reinventar a maneira como os consumidores interagem com dinheiro no dia-a-dia.
A Capital One pretende ajudar seus consumidores na tomada de decisões mais informadas e responsáveis na hora de executar pagamentos, por meio do uso de dados, como localização e padrões comportamentais. Seus executivos acreditam que a tecnologia wearable apresenta uma oportunidade única por conta dos dados que coleta. “Os wearables oferecem novas maneiras de saber quem você é, quando você é e onde você está”.
A MasterCard quer usar os melhores e mais recentes gadgets, incluindo os wearables, para despertar a lealdade de seus clientes. “Vemos que no futuro eles vão interagir com uma série de novos dispositivos que vão muito além dos cartões de plástico e dos dispositivos que têm em seus bolsos”, diz Stephane Wyper, vice-presidente de engajamento de startups da empresa. Segundo ele, a questão principal para a MasterCard é como transformar todos esses dispositivos conectados em dispositivos de pagamento.
Já Varun Krishna, diretor sênior da divisão de carteiras de cliente do PayPal, encara a tecnologia como uma oportunidade significativa que eventualmente implicará em experiências de pagamento mais conectadas e pessoais. “Os wearables fornecem conectividade de uma forma que os apps não conseguem”, explicou Krishna, acrescentando: “Por natureza, eles são mais conectados ao usuário do que um telefone seria”.
Entretanto, o executivo ressaltou que a adoção massiva da tecnologia para pagamentos móveis irá depender do tamanho da rede que lhe der suporte. Em outras palavras, o sucesso está intimamente ligado ao número de varejistas que aceitarão modelos diversos de pagamento digital. Por sua vez, o PayPal tenta agressivamente desenvolver e expandir essa rede de aceitação.
Avanços em analytics também desempenharão um papel crucial na evolução de pagamentos móveis via wearables porque ajudarão as empresas financeiras a tirarem melhor proveito dos dados do consumidor. “A quantidade de dados disponíveis sobre o modo com que os consumidores gastam dinheiro é astronômica se comparada ao modo que a usamos”, apontou Krishna.
“Os analytics de dados serão importantíssimos”, concordou Wyper. “Eles permitirão que as companhias financeiras peguem todos os dados coletados e os usem como informação valiosa. O futuro dos pagamentos móveis pode ser previsto baseado no contexto, então se você sempre usa o mesmo serviço em uma localização, ele pode ser capaz de prever o que usar em qual situação”.
É mais simples do que parece. Por exemplo, se você trabalha frequentemente em Manhattan e sempre usa seu cartão de crédito corporativo quando está em Nova York, então uma opção de pagamento em seu smartwatch pode ser oferecida automaticamente ao chegar a seu bar ou restaurante favorito — tudo com base em sua localização e histórico de comportamento.
Atualmente, empresas de pagamento precisam pedir dados a seus clientes, que então enviam o quanto (geralmente pouco) estiverem dispostos, dificilmente mais do que compartilhariam em aplicativos ou sites. No futuro, os wearables e outros dispositivos coletarão esses dados automaticamente – depois da habilitação do recurso pelo usuário – e em troca entregarão informações contextuais relevantes.
Desafios para os wearables
Os wearables podem aprimorar e expandir o processo de pagamento, mas também balancearão a facilidade de uso – processo batizado de “redução de atrito” – e a necessidade de fornecer toda a informação necessária para a tomada inteligente de decisões financeiras.
“Você precisa balancear a redução de atrito com a necessidade de fazer as pessoas entenderem o processo”, assinala Angie. “As pessoas hoje em dia gastam dinheiro sem pensar duas vezes. Ao remover o atrito, você diminui o peso do dinheiro para o consumidor”.
Ela cita a decisão recente da Uber, que adicionou uma confirmação para seus usuários de que estariam dispostos a pagar por uma possível sobretaxa antes de chamarem um motorista. Essa confirmação extra foi implementada porque o Uber tinha “eliminado demais o atrito e facilitado o uso do serviço”. Ao ponto das pessoas pedirem um carro em horário de pico e acabarem pagando mais.
A balança entre facilidade de uso e fornecimento de informações pertinentes protege os usuários e ajuda na construção de laços de confiança entre os provedores de serviço e seus clientes. “Se você quebra essa confiança, é muito difícil recuperá-la”, alerta Angie.
O futuro dos wearables
Os palestrantes concordaram que será difícil um único método padronizado para os pagamentos móveis ser adotado. Da mesma forma em que as pessoas carregam vários cartões de crédito, elas provavelmente usarão mais de uma opção de mobile wallet e pagamento em diversos dispositivos. “É difícil defender uma solução única para resolver tudo. Aplicativos e servidores diferentes fornecerão essas opções de pagamento”, aposta Wyper.
Além de pagamentos, coleta de dados e analytics preditivos, os wearables também desempenharão um papel importante no futuro da fidelidade dos clientes, de acordo com Wyper. O ecossistema de aplicativos para wearables e pagamentos móveis é ainda relativamente imaturo e os provedores devem aprender com seus erros iniciais. Conforme o fizerem, a experiência do usuário e o valor geral das ofertas tendem a escalar.
“Eu me animo com esse espaço se tornando ‘sexy’, com desenvolvedores querendo uma fatia do negócio, porque isso quebra a noção de ‘jardim murado’ e traz mais inovação”, declarou Angie. “Nós estamos somente começando a aprender. Os furos não são vistos até chegarem ao mercado”.
“Hoje em dia temos vários pedaços espalhados… mas em um futuro não tão distante os pedaços pequenos se juntarão para a criação de algo altamente contextual e relevante”, aposta Krishna.
Fonte: IDG now